segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A cidade ferve

A cidade ferve


Quando estava hoje pela manhã. Tão incerta como o céu paulistano e o seu cheiro me invadiu o olfato, me sinto tão “instinto” quando isso ocasionalmente me acontece. Não estive hoje pela manhã, viajei um “bucadinho” como de praxe. E não foi saudade o que senti, foi alívio e alegria de ter vivido algo tão místico para alguém tão descrente.
Engraçado. Será isso estar de fato entrar na vida adulta? ter maturidade? Penso que às vezes que é esse colecionar cheiro, tato , lembranças nos bares e cinemas. A cidade inteira contando estórias que inventei com pessoas que hoje podem estar aqui ou na Ásia.
Mil e um cenários disponíveis, roteiros possíveis. Mas observar o caos tem de suas delícias pela força que a imaginação me pede nessas horas ”dai-me luz Senhor do tempo, nesse momento maior...”Cantarolo enquanto o trem não chega, enquanto perco a hora todo dia. Esse eterno estado lúdico em que mergulho todo dia. Ontem um pássaro negro pousou no muro do meu quintal e ficou por ali como se tivesse coisa pra dizer e hoje quando acordei sem roupa, sem memória e sem você, pensei que fosse conto Machadiano, não fosse a verdade da luz do dia me cegando os olhos enquanto a água fervia , a cidade fervia, a cidade fedia.
Ontem me falaram que a solidão não é saudável e que o amor não é tão importante quanto a cotação do dólar no mercado. Sempre me falam do que de certo e de errado eu não quero mesmo ouvir, deve ser alguma política para a estabilidade financeira da especulação imobiliária.
Mas enquanto a água fervia e eu pensava no pássaro eu pensava também no tempo que faz conosco o mesmo que o fogo faz com meu futuro café. Tão óbvio tão tempo. É bobagem pensar nisso enquanto o ônibus passa, e o trem parti enfim.
Assim enquanto o curso natural das coisas acontece, você acontece em meu quarto, sala e cozinha, e eu mais uma vez deixo o trem, o ônibus e a cidade que ferve porque o pássaro quis me dizer de você e eu ouvi meu bem, porque há cenário, há roteiro e temos corpo enquanto almas perdidas porque bússolas são ilusão e teorias são as coisas que estão lá fora na cidade que ferve. Ainda com fôlego pra novamente ter memória de cores, de cara e de graça, com graça pra nossa estória que pode ser azul como a chuva pesada que promete cair na cidade.
Hoje será a surpresa que confunde os sentidos, estive no seu corpo, estive em seus sentidos. Suas cores são claras e plásticas.
Hoje também teremos o mundo como inimigo, a família como campo minado e aos amigos como aliados, porque lá fora o mundo ferve contra nós e teremos presente, porque o que se tem é sempre presente. Temos pássaros mensageiros, um quintal e temos café. Temos sobretudo e sobre todos corpo enquanto almas perdidas. Perdidas.
Mas ontem tínhamos só lembranças. Hoje nos temos, não tememos. Temos a água que ferve amém.

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