quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Soberania subjetiva

Puro gozo, desejo latente de abandonar o meio, o maio.

Maio me dividiu ao meio,unhas adereços.

Maria comprou passagens e abandonou nosso amor.

Eu moro no bar bebendo o gozo egoísta de não ser fusão.Pedaço de carne saltitante cheio de éter e nunca mais soube se você existiu. Estou embriagada , assim é bom.Quase feliz, quase louca. O mundo está em guerra. Eu não quero lutar. quero brincar de ontem. Desaprendi a brincar de futuro. Pensar é sobretudo uma tentativa absurda de esquecer.

Maria, não me deixe sem seu café fraco, sem seu humor frágil.Posso viver, Maria. E sem você dói.

sábado, 8 de outubro de 2011

Inspirações Clariceanas!



Entre o homem e a comida: o abismo, enquanto um homem cisma a comida espera, a cerveja esquenta, a lágrima brilha e a voz engasga.


A vida não cabe no papel, o homem já não cabe na vida, não cabe à vida.

Não essa: finita, palpável e podre!

Gasta-se sapatos, lápis,lágrima e suor, fertiizando a terra, num incorrigível

círculo inteligível.

Passemos,pasemos,passemos,passemos..

domingo, 2 de outubro de 2011

Ternura.



Eu te peço perdão por te amar de repenteEmbora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidosDas horas que passei à sombra dos teus gestosBebendo em tua boca o perfume dos sorrisosDas noites que vivi acalentadoPela graça indizível dos teus passos eternamente fugindoTrago a doçura dos que aceitam melancolicamente.E posso te dizer que o grande afeto que te deixoNão traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessasNem as misteriosas palavras dos véus da alma...É um sossego, uma unção, um transbordamento de caríciasE só te pede que te repouses quieta, muito quietaE deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar

[ extático da aurora.


Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.


Quem se importa?!


Ela sempre mentiu para seus amigos dizendo de como era suja, se dizia uma puta porque ser mulher a enfraquecia, mergulhou entre seus desejos mais escatológicos e traiu tudo que era bonito dentro dela, ela nunca soube como dizer do afeto anônimo que alimentava todas as semanas, ninguém sabia o quanto ela já chorou dentro do banheiro , na esquina da rua agitada, ninguém nunca entendeu porque a vida a assustava tanto. Nunca soube dizer de onde veio aquele desamor mentiroso que ela criou entre uma crise e outra, ninguém sabia quando ela mentiu e disse que amava só pra não morrer porque a vida é muito pesada. Ela sabia o quanto o mundo pesava, e comparava o peso semana sim, semana não. Diziam: doida. A moça era triste, mas ninguém levou a sério e antes de saírem com seu corpo branco e virgem, disseram: _Parecia tão feliz hoje! /Ela estava mesmo, pois sabia que precipitaria a angústia.