terça-feira, 12 de junho de 2012

Apague as luzes .

                Finalmente você voltou Maria, eu estive tão cansada todos esses dias. Eu amei tanto você, abrindo a porta, os braços, as pernas, para viver. O corpo é possível ainda sem você, mas eu quero dizer o quanto o gosto do seu corpo pode me curar do mal do mundo, sem você dei pra andar tonta, eu saio com o rosto carregado de cores, com as palavras na garganta esperando algum desatar de nós.
            Um passo falso e eu me lanço pra um bar, um barco, um voo, um salto de paraquedas, eu sou uma mulher Maria, eu não posso mentir pra imensidão dos seus olhos, negar que suas mãos me livram do inferno, me santificam a carne, alimentam, me fazem ver, respirar flor, ficar muda de tanta alegria. Quase quatro anos e ninguém sabe e nem pergunta de você. Eu dormi com pessoas incríveis, eu acordei com pessoas horríveis. Eu saí de nossa casa, porque a pia tinha lembrança de como você cozinhava, a geladeira não tinha mais seus temperos e eu sentia ainda o peso da sua mão na minha cintura antes de adormecer.
             Agora você aparece,  me tira a roupa e me ama .Nada aconteceu esses anos? Eu respondo que não, meus olhos são eternamente seus, minhas mãos são cúmplices do seu prazer, da sua rota, eu sou seu continuum , seu sim em  afeto, eu colecionei todos esses anos os  poemas que parecem com você....”enlacemos as mãos”. Eu já me inscrevi no curso de francês, quero te escrever cartas novamente, te acordar com Norah Jones só pra gente continuar na cama, eu vou aprender umas músicas da Madona pra você ficar feliz.  Eu fiz uns desenhos de uma mesa que eu quero fazer pra gente, pra gente jantar, beber e fazer amor. Vou comprar uma mesa de sinuca pra aprender a jogar e espalhar uns livros em cima, eu leio um conto e você faz um arroz, eu gosto do seu arroz.
           Nessa terça fria você invade meu quarto com suas cores escuras e tira a roupa enquanto sorri e eu  fico achando que somos deus. Como você consegue tirar de mim o peso do mundo,  aquecer o frio de mil noites estúpidas sem você? Eu não a interrogo, eu só quero seu corpo, assim como você também só se sabe em mim, porque o tempo é um senhor me explicando o quanto eu te preciso, o tempo é meu amigo, o Rilke é meu amigo, eu lhe fiz poesias Maria, eu quero ficar velha deitando no seu corpo, eu posso até transar outros sentidos, você também, o que é sacro é nosso pão, nosso fermento, nosso amor de noites inteiras santificando nossa carne, nos fazendo flor, mel, leite, sangue, letra, língua. Não há estação que mude, nada que me tira você , porque eu não deixo, te mantenho com sangue, com meus verbos mais densos, minha sintaxe mais natural, minha força sutil e meus olhos, sobretudo meus olhos, são internamente, internamente ( esse ciclo) uma dúvida, uma dívida  diante do mundo, deite comigo  Maria, eu te direi mais uma vez quem sou. Meu corpo também é seu e você sabe tão bem quanto eu. Deixemos o mundo, em paz com a vida, com vida ainda.
         Comungar seu corpo, marcar você na minha pele, jogar as tintas sobre as incertezas do mundo, sair do limbo, ser sexo, ser imensa, santa, saias, vestidos : enfim transbordar,  nossas cores juntas de novo, vamos pegar mochilas com nossos sonhos mais antigos, eu te dou minha mão e meu sim, você já pode me matar, vai ser doce, como um dia  você prometeu.

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