sexta-feira, 8 de junho de 2012


           Perdoe a minha mão em espera e também esse jeito torto de andar por aí. Não pense que não fiz janta todos esses dias, os  pratos na pia lhe mostrariam o quanto de espera aguentei.
         Eu parei de fumar e comprei sapatos de cores claras. Guardei seu pijama junto ao meu, caso você não volte, seu cheiro de limão com pasta de dente estará nele. Tudo que você me deu,  agora,  é um exército inimigo. Abro a porta e lá estão prontos pro ataque:  poema de Drummond com seus riscos, anéis esquecidos na minha gaveta...
            Eu finalmente arrumei lugar pro espelho, o vizinho chato mudou daqui, e nunca mais voltou...Eu lhe diria tantas coisas, eu xingaria você.
                 Sente aqui  Maria, me deixe tirar sua blusa devagar, gosto desses botões vermelhos no seu casaco.  Me deixe chegar  perto em silêncio . Deito minha cabeça no seu colo e espero sua voz silenciar minha confusão do dia, essa chuva  deixou seu cabelo molhado, suas mãos frias, os dias de  inverno esfriam você e me acendem, repouse suas mãos na minha cabeça, alcance minha dor, reconheça meu desespero durante uns minutos , eu lhe farei um chá de canela, de maçã. Encontre o pó de café, não faz tanto tempo assim você o guardava lá, perto do açúcar.
            Seus esmaltes escuros e suas mãos ainda queimam meus sonhos, então não olhe muito nos meus olhos Maria, respeite a saudade do meu corpo, só quero lhe fazer um chá e falar sobre os estudos  , os vizinhos novos , você me diz do cinema com  Malu ,da saidinha com o Zé e eu finjo não prestar atenção, a água ferveu Maria.

Um comentário:

  1. A água ferveu. O corpo apagou mas não morreu. A vida alterna entre bela e mórbida. Tenho sede e frio e tudo continua por meses e meses, CINZA.

    Vc me inspira, assim, perto do açúcar.
    Bjs

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