terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

viver.

             Não foi o câncer, nem a soma de tantos anos juntas, nem os holofotes sobre aquele enlace, foi a declaração de quem ficou, triste e sentenciosa: "foi-se o amor da minha vida".
             Os sentidos viram cilada quando um amor se ausenta pela eternidade, as roupas no guarda-roupa são a realidade palpável de que aquele amor existiu, andou e escolheu sapatos de cores sóbrias, não há produto de limpeza que dê conta do cheiro nos travesseiros e as músicas cessam, cessam. Um soluço será ouvido de madrugada e também às dez da manhã e o corpo cumprirá o ofício de lembrar o sexo, agora, tão carente quanto um homem em terra estrangeira pela primeira vez.
        Apenas um prato sobre a mesa, um ingresso, reserva para uma,passagem para uma, todos os guias abertos no computador são de  buscas pares, será necessário apagar o histórico e não comprar mais flores.Será preciso também evitar o tumulto alegre dos lugares cheios, será necessário não se matar.
        Mas tudo é das dores imaginadas, no fundo, deve ser bem pior.
É preciso viver,viajar e transbordar amor.

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